terça-feira, 27 de abril de 2010

A Seta e o Alvo.

Eu falo de amor à vida,
Você de medo da morte.
Eu falo da força do acaso
E você de azar ou sorte.
Eu ando num labirinto
E você numa estrada em linha reta.
Te chamo pra festa,
Mas você só quer atingir sua meta.
Sua meta é a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.
Eu olho pro infinito
E você de óculos escuros.
Eu digo: "Te amo!"
E você só acredita quando eu juro.
Eu lanço minha alma no espaço,
Você pisa os pés na terra.
Eu experimento o futuro
E você só lamenta não ser o que era.
E o que era?
Era a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.
Eu grito por liberdade,
Você deixa a porta se fechar.
Eu quero saber a verdade
E você se preocupa em não se machucar.
Eu corro todos os riscos,
Você diz que não tem mais vontade.
Eu me ofereço inteiro
E você se satisfaz com metade.
É a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa não te espera!
Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?

domingo, 18 de abril de 2010

segredo dos olhos.




não se consolam. clamam fugazes.
Olhos que se entregam.
Ilegais.

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O tempo é quem manda. Tempo de desencontro, pra nós.
Não tá certo... Não é tão errado.
Essa coisa toda que você diz, quase gritando de dor, já não me faz tão bem assim. é como uma sentença. paga pelo que nao fez, não faz, não é. mas nós somos. e somos ligados por essa coisa que não sabemos. e tanto sabemos... e tanto queremos...e tanto sofremos. vc grita, louco. surta. e eu rindo... com raiva. de vc, de nós dois aqui, assim... sem poder sermos. sem poder estarmos. perto nao dá. mas longe, menos ainda.

"Nossos corpos não conseguem ter paz"

e sem porque...

eu só sei que eu quero voce. perto de mim, eu quero você.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

"MIND THE GAP"

Quem já viajou para outros países, especialmente os de idioma inglês, e andou de metrô, já se deparou com o aviso que há em cada estação subterrânea. Ou está escrito no chão, ou os alto-falantes avisam: “Mind the gap”. Significa “cuidado com o vão”. Não caia. Não dê um passo em falso. Fique atrás da linha amarela. Não avance. Não arrisque cair nos trilhos. Mind the gap. Mind the gap.

Estava eu, numa noite de sábado, assistindo em casa ao filme Notas de um Escândalo, cujo atrativo maior é o duelo de duas grandes atrizes, Cate Blanchett e Judi Dench, quando a personagem da insatisfeita Cate saiu-se com essa frase: “Temos que ter cuidado com o vão. Que é a distância entre a vida que você sonha e a vida como ela é”.

A distância entre a vida que você sonha e a vida como ela é.

Mind the gap, pois a queda é dolorosa. Mantenha-se com os pés firmes na vida que você tem. Claro que a vida sonhada é determinante para a busca da felicidade, claro que é essa vida “do lado de lá” que nos mantém despertos, claro que o sonho é mais inspirador do que a realidade, porém, cuidado com o vão. É onde a gente se machuca.

O túnel de uma estação de metrô costuma ser recheado de cartazes publicitários. Fotos de ilhas caribenhas para vender cartão de crédito, fotos de mulheres sublimes para vender cosméticos, fotos de casais jovens e apaixonados para vender roupas. Um mundo lindo e perfeito, sem tédio, sem dívidas, sem solidão. Ali, do outro lado do vão.

E a gente olhando tudo isso, parado, em pé, segurando uma mochila pesada, enquanto espera o trem.

Se você está viajando a turismo, se está em outra cidade ou em outro país, de certa forma já está do lado de lá do vão, está vivendo um instante de deslumbramento, em que se encontra longe de casa, longe do trabalho, com algum dinheiro pra gastar, com tempo livre, tirando umas férias da rotina e de você mesmo: não seria essa a descrição perfeita de “a vida que você sonha”?

Férias é sempre um passeio por essa outra vida, a idealizada.

Mas pense bem: imagine uma vida eterna de prazeres, sem hora para dormir nem para acordar, com o mundo bem resolvido, o céu sempre azul, um amor tranquilo, champanhe e caviar dia e noite. Uma semana, um mês, 10 anos sem motivos pra chorar, sem um compromisso a cumprir, sem um desafio.

Fazendo esta transferência, consigo me ver estampada nas paredes de uma estação, eu e minha vida de comercial de cartão de crédito, olhando aquela outra mulher na plataforma oposta, em pé, esperando o trem para levá-la a uma reunião de trabalho, a um encontro que pode frustrá-la ou surpreendê-la, a um bairro em que pode estar chovendo, a um acontecimento que deixará seu coração palpitando, e penso que talvez eu continuasse angustiada com a imensa distância que há entre a vida que a gente sonha e a vida como ela é.

Estamos sempre de olho na outra margem, na plataforma de lá. E o vão nunca some.